Todas as atenções da Lusa Pátria têm andado viradas nos últimos
tempos lá para o lado das terras do sol nascente. Por aquelas bandas,
uma dúzia de garbosos e lusitanos rapazes, correm que nem desalmados
atrás de uma bola. Do que eles conseguem, das suas vitórias e das suas
derrotas, depende grandemente o estado de alma de milhões de
compatriotas.
Se levam de vencida o adversário, logo Portugal se transforma no mais
valente país deste mundo e arredores. Se são derrotados, de imediato Portugal é varrido de lés a lés pelo desânimo e pela insegurança. Os heróis das horas boas, passam a vilões na horas más. De magníficos quase génios, quando a bola rola a nossa favor, passam a incompetentes, a malandros e a pernetas, quando o esférico nos atraiçoa.
Com estes ânimos ora exaltados, ora cabisbaixos, um mero desporto feito de correrias atrás de uma saltitante bola, é transformado em desígnio nacional, e em algo que elevado ao extremo simboliza aquilo que uma Nação deseja, e na qual supostamente pelo menos, todo um Povo se revê.
Enquanto isso, esquecem-se amarguras, deitam-se para trás das costas preocupações individuais e colectivas, e faz-se de conta que no mundo do
futebol nacional tudo corre às mil maravilhas.
Desde que lá longe, a equipa baptizada com o inconcebível e tacanho nome de Tugas vá longe e vá ganhando, confunde-se a árvore com a floresta, e confunde-se o modo de jogar e a capacidade de ganhar da Selecção Nacional com o estado deplorável a que chegou o dito desporto rei nos nossos campeonatos.
De nada interessa que haja jogadores de futebol em equipas com algum relevo quase a passar fome por não receberem ordenados a tempo e horas. Dividas antigas e modernas de impostos por parte de clubes , não nos fazem mossa, e desde que o roubado não seja o nosso clube, achamos muito bem que os árbitros apitem a seu belo prazer.
Quando a nossa Selecção chega ao topo, e dá réplica às melhores entre as melhores, esquecemos de todo que estamos num país com insuficientes infra-estruturas desportivas, e onde a política oficial para o desporto mais não é do que a simples distribuição de pontuais subsídios.
Isto, claro, passando ao lado da megalómana construção de não sei quantos estádios de futebol, para aí uma dúzia, novos em folha, e mais caros que eu sei lá, que nos damos ao luxo de ir apresentar no próximo Campeonato da Europa, o qual nos calhou na rifa organizar.
Não está em causa o apoio que a Selecção Nacional deve ter por parte dos portugueses mais ou menos amantes das coisas e loisas da bola, até porque com ela e através dos seus feitos é o próprio nome de Portugal que é invocado.
Contudo, cada coisa deve ter o seu lugar e o seu tempo, e não me perece ser
recomendável que se pretenda que a grandeza de um povo se meça ou se faça sentir pelo modo e pelo jeito com que um punhado de moços já casados joga a bola, ao serviço da equipa de todos nós, no entretanto que vai entre um ou outro jogo da equipa que verdadeiramente lhes dá o ser, lá pelas terras do estrangeiro.
Futebolísticamente

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