Ana Soares

Ana Soares

Free pass vacinal

Iniciou a campanha de vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos contra a Covid-19. Não pretendo  - com esta crónica - discutir aspectos técnicos, uma vez que não sou da área. Limitei-me, como acho que é minha obrigação enquanto Mãe, a ler os estudos credíveis que se encontram disponíveis e, a par mas não menos importante, a pensar sobre o assunto.

Sou completamente a favor das vacinas que integram o Plano Nacional de Vacinação e de algumas que (ainda) não estão incluídas no Plano, pelo simples facto de evitarem uma taxa elevada de mortalidade infantil e de sequelas graves e muitas delas permanentes, sendo seguras (ainda que haja casos excepcionais de complicações). Aliás, os efeitos da redução do risco de propagação de doenças, com a chamada imunidade de grupo, teve resultado muito benéfico a nível da saúde infantil, conforme os números conhecidos não deixam sombras para dúvidas.

Mas o que se passa com a Covid-19 parece-me ser bem diferente. Por um lado, o número de internamentos nos cuidados intensivos em Portugal de crianças por covid-19 limita-se – desde o início da pandemia (Março de 2020) – a umas dezenas, sendo que a grande maioria tinha comorbilidades associadas. Por outro, sendo agora esta faixa etária uma das mais infectadas, claro é que – felizmente! – este facto não se tem traduzido em formas mais graves da doença vividas por crianças, mantendo-se genericamente os internamentos das pessoas mais velhas e/ou com factores de risco associados como os mais significativos.

Isto, associado a outros factos que hoje – quase dois anos desde os primeiros casos em Portugal – já se conhecem e não apenas se teorizam, faz-me crer que a vacinação das crianças em geral é perfeitamente exagerada e sem sentido. Obviamente não falo das crianças que apresentam factores de risco e comorbilidades. Falo das crianças que, não sendo de grupos considerados de risco, conseguem fazer frente ao vírus com base no seu próprio sistema imunitário como é desejável. Defender a vacinação das crianças, como tem sido dito, para reduzir o contágio para os adultos ou por uma questão “social” parece-me, além de desadequado, totalmente desproporcionado.

Face ao que já referi, muito receio que venha a acontecer com as crianças – pessoas particularmente frágeis e que merecem especial protecção por parte dos Pais (ou quem os substitui) e do Estado – o que já acontece com os adultos (ainda que com estes os números demonstrem que a generalidade da doença não é tão leve como nas crianças) e que a vacinação passe a ser um género de free pass para a “vida normal” ou o que a ela nos é permitido aproximar, nomeadamente com a sua obrigatoriedade para viajar, ir a eventos culturais ou visitais educacionais, já para não falar, a título de exemplo, a residências de pessoas de terceira idade onde estejam familiares.

A vacinação das crianças contra a covid-19, cuja forma da doença e sequelas não é particular e geralmente gravosa para as crianças - deve ser uma opção dos Pais, ouvidos os médicos que conhecem a situação clínica de cada criança. Impô-la, ainda que se afirme o contrário, como um free pass obrigatório para que as crianças não sejam (ainda mais) privadas de uma vida com o mínimo de normalidade não me parece apenas uma questão pouco democrática, mas também onde o bem-estar e interesses primordiais das crianças não estão a ser o fiel da balança da decisão. Esperemos que assim não venha a ser!


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