Sócrates foi um dos grandes filósofos da Antiguidade Clássica e um dos que mais marcou o pensamento humano na Antiga Grécia, no século IV a. C.. A
partir dele, o pensamento humano sobre o homem e sobre o mundo ficou repartido entre os pré-socráticos e os pós-socráticos, o que lhe consagrou ser ele o
ponto-chave de uma viragem na sabedoria da humanidade, ou se quisermos, na forma de a obter. Depois dele, tudo seria diferente. Não deixou nada escrito.
A sua obra, se é que ela existe, reside no que os seus discípulos transmitiram e nos testemunhos que deixaram. Por isso, a sua figura permanece
um pouco obscura. O seu método, a maiêutica, sempre oral, pretendia provocar no discípulo respostas cada vez mais precisas por meio de perguntas hábeis,
até conseguir uma definição universalmente válida. Tinha quase sempre uma finalidade moral, isto é, o fruto de um conhecimento intelectual e não a adaptação a uma norma externa.
A percepção do mundo e do homem, a compreensão da Natureza, o discernimento, tudo passou a contribuir para um tipo de conhecimento universal. E de tal forma
o fez, que hoje continuamos a estudar a sua filosofia, o seu método, a sua importância no desenvolvimento do pensamento humano.
Este Sócrates da Antiguidade Clássica, também foi político e, talvez por isso mesmo, levou tão longe a habilidade das suas questões para a obtenção
de respostas cada vez mais credíveis e universais. Soube criticar e apontar soluções, sempre num caminho de descoberta onde a razão desempenhava um
papel primordial.
Hoje, o Sócrates que nos aparece na política, está longe de ser um seguidor daquele do século IV a.C. Apesar de tanto tempo os separar, o pensamento socrático era bem mais afilado e racional do que o expresso pelo Sócrates
actual. Aliás, nada os identifica, à partida. Nem a percepção do mundo e do homem, nem a habilidade posta nas questões e nas respostas que imite. É
evidente que os juízos de valor também são aleatórios, neste caso. Mas, mesmo assim, o Sócrates socialista do século XXI, não faz perguntas nem dá respostas! Como julgar um homem que assim precede? Não discute. Não debate.
Não se senta à mesa com os parceiros para expor os seus pensamentos. Não imite juízos de valor sobre coisas importantes, mesmo sobre as que diz... de
vez em quando. E muitas vezes engana-se, dando o dito por não dito! Há alguma coisa de comum nestes dois homens? Obviamente que não, a não ser o facto de
ambos serem homens.
Na política como na vida temos de ser verticais e suficientemente justos, para saber enfrentar as barreiras que se nos apresentam e explicar o porquê de as
querer vencer ou ultrapassar. O objectivo terá de ser credível, caso contrário, cairá por terra toda e qualquer asserção, sob pena de não se coadunar com os objectivos esperados pelos outros.
Na verdade, não é essa a postura que tem evidenciado este falso filósofo. E não é porque os objectivos além de serem escassos, não são credíveis.
Como o poderiam ser se ontem disse que iria criar 150 mil postos de trabalho e hoje diz que quer reduzir 75 mil funcionários públicos? Nós sabemos bem que
a situação económica e social de Portugal está em crise, mas somos suficientemente espertos para ver o que é exequível e o que não o é efectivamente. De facto, mesmo começando por dizer que não queria fazer
promessas nesta campanha, acabou por fazer já algumas promessas, mas infelizmente elas não são possíveis de concretizar e é só por isso que
são feitas, porque se fosse praticáveis, se calhar não seriam feitas. Mas os políticos são assim mesmo. Na política, há que prometer para poder cumprir! O problema é quando não se pode cumprir porque o que se prometeu
não é viável. A desculpa vem logo como lógica, numa perspectiva de fuga ao cumprimento da promessa já feita. Como gostaria Sócrates, o filósofo grego,
de ter uma conversinha com este Sócrates, aprendiz de filósofo português!
Que perguntas hábeis esperariam uma resposta credível deste nosso político?
Será que à pergunta «Espera ganhar as eleições legislativas« ele responderia Sim!? Será que responderia que vai ganhar com maioria absoluta?
Será que diria que se ganhar vai aumentar o desemprego em Portugal? Que respostas nós poderiam esperar? Enfim, são apenas expectativas de uma perspectiva filosófica, claro!
Aliás, neste momento e com os políticos que se presentam a sufrágio, apenas podemos aventar hipóteses que, numa visão socrática, esperam uma conclusão universal, ou seja, uma resposta válida para todo o universo português.
Isto é.... filosofando!