Grandes transformações estão a ocorrer no Ocidente mas as quatro maiores parece-me serem:
1) o envelhecimento rápido da Europa e, em geral, de todo o Ocidente;
2) o esquecimento das referências culturais e civilizacionais da Europa e do Ocidente;
3) o choque de culturas, etnias e civilizações de que a Europa e os EUA são palco;
4) a perda dos valores do Estado Social por a Europa ser incapaz de concorrer com os países que a globalização fez emergir como economias novas e mais baratas, a preço do esclavagismo e da precaridade laborais e do incremento brutal dos pobres.
Impressiona-me que a Europa e os EUA se tenham deixado arrastar para a situação que acabei de caracterizar. O Ocidente deixou-se matar pela pós-modernidade, fazendo cair os valores comuns da sua construção como cultura e civilização dominantes.
Estas cultura e civilização basearam-se em quatro pilares: 1) universalidade do cristianisno como fundamento moral dos ideais da liberdade, da iguladade e da fraternidade; 2) democracia como direito ao bem-estar; 3) Estado Social como garantia de inclusão cívica e social; e, 4) Estado como aparelho garantedor destes três pilares, e, se fosse preciso, repressor das agressoões contra eles.
Que falhou então no Ocidente para tudo isto ruir?
A primeira coisa a falhar foi a economia, logo no início dos anos setenta do Século passado, como abastecedora do Estado Social.
A segunda coisa a falhar foi que os dirigentes políticos não perceberam , na altura, que a manutenção do Estado Social exigiria reformas profundas da economia e do Estado e, quando, por acaso, o império soviético ruiu, em 1989, o capitalismo e a especulação financeira passaram a ter como limites o mundo inteiro e não já o Ocidente, também ele, já por si, desregulado.
Hoje, a Europa é um continente que tem tudo para morrer:
1) envelhecimento para não conseguir cumprir as tarefas da modernização através da população jovem;
2) excesso de comunitarismo étnico e cultural, com risco de perda da identidade cultural e civilizacional e com risco de violência e dissolução dos Estados-Nação;
3) falta de produtividade dos bens essenciais à sobrevivência em estado de guerra ou de catástrofe;
4) excesso de despesa do lado da segurança social e da saúde;
5) excesso de desemprego e, sobretudo, de desemprego jovem.
Há solução? Creio que sim, mas já só a um horizonte mínimo de trinta anos. E ela passa pelo regresso à agricultura e à indústria, com perda de grande parte do poder de compra. Não sei quanto mais teremos de perder mas é ainda certamente muito, com risco de violência caso os privilégios de alguns se mantenham elevados.
O Governo acaba de dar um bom sinal com a diminuição dos privilégios de alguns gestores públicos. Porém, é ainda insuficiente. A desigualdade e a injustiça reinam ainda de uma forma gritante. Mas também é preciso garantir a evidência de que o mérito é premiado; que aqueles que trabalham e que conquistam as coisas a pulso, não são nem injustiçados nem espoliados.
Bragança, 11-02-2012