Numa altura em que a actualidade política nacional se divide entre remodelações que o deixaram de ser antes de o serem, na ressaca da decisão do Tribunal Constitucional que teima em não mais passar e em tabelas excel que todos adivinhávamos ter algo de errado mesmo antes de os erros serem públicos, talvez fosse expectável que existisse algum interesse e curiosidade no discurso que o Senhor Presidente da República proferirá daqui a três dias, no 25 de Abril.
Na verdade, numa altura em que o número de desempregados não pára de crescer, seria importante ouvir a mais alta Entidade Pública portuguesa para efeitos protocolares falar com seriedade e conteúdo sobre este verdadeiro flagelo que afecta a grande maioria das famílias portuguesas. Aliás, hoje em dia falar de um Portugal democrático sem falar desta realidade que defrauda o que de mais profundo há nos princípios tantas vezes repetidos do 25 de Abril só poderia ser, estou certa, uma piada de mau gosto.
Por outro lado, se há vida para além do deficit é importante que se repita e se concretize este princípio agora. É verdade que o nosso sistema político não entrega ao Presidente da República as grandes opções governativas. Mas é fundamental que o mesmo cumpra o mandato para que foi eleito e não se limite ao silêncio a que nos tem habituado e que tem valido de tão pouco.
Ou seja, acredito que seria necessário um posicionamento claro do Senhor Presidente da República no sentido da estabilidade social se impor face à ditadura económica. Se já se viu que a receita que tem vindo a ser seguida não tem dado resultado, mudem-se os ingredientes antes que a refeição passe definitivamente de prazo. Porque é da vida de todos nós que se trata.
Numa altura em que a Europa e o próprio projecto europeu se parecem ter perdido entre o projecto inicial, o que deveriam ter sido e como que mentes brilhantes os sonharam, o povo português precisa de um sinal que demonstre que o Senhor Presidente da República e o próprio Governo fazem parte do país real. Um país que quer viver o aqui e o agora com certeza e esperança no futuro que está já a espreitar ao virar da esquina. Porque se são necessários sacrifícios que se façam. Mas como tratamento para um problema sério e não como pensos rápidos de quem tem medo de tratar onde é realmente a origem do problema.
Mas esta é apenas a minha opinião a três dias do 25 de Abril. Veremos se o Senhor Presidente da República surpreende o país com o seu discurso e deixa o silêncio incomodativo com que nos tem brindado ou se, por outro lado, se limita ao discurso das pontes democráticas que – ainda que necessário – não chega.
Porque agora, como deveria ter já sido antes, é tempo de pensar em Portugal e nos Portugueses.