Parece mentira, mas é verdade. De há uns tempos para cá, não há quase dia nenhum em que a região do Douro não venha referida nos meios de comunicação social escritos e falados.
Seja pelos motivos menos bons que respeitam à situação pode dizer-se triste da Casa do Douro, seja pela situação dramática advinda do não escoamento dos vinhos, ou seja porque o Douro é de potencial elevado no campo turístico, carrega-se num botão da televisão, ou abre-se um jornal, e logo se depara com as belas imagens das nossas bandas.
Isto para já não falarmos das inúmeras visitas que vamos recebendo por parte de gente muito importante e de todo o lado. Ainda há uma ou duas semanas atrás, subiram por aí acima um ror de personagens importantes, daquelas de primeira apanha, que no Pinhão chamaram a atenção para a excelente oportunidade de investimento que a região representa. Dizem os entendidos que melhor não há no presente, e que é só querem, que logo o Douro vira Algarve ou coisa que o valha.
Dois dias antes, tinha eu visto e ouvido o ministro da economia ali em Lamego anunciar com ar todo satisfeito o evento, assim com jeito de que nos estava a dar motivos para darmos saltinhos de contentamento, se calhar por finalmente se terem lembrado de nós, pobres coitados que em breve iríamos ver o sol brilhar no firmamento.
Não sei porquê, mas tive a sensação de que tudo aquilo que anunciavam como possível, hotéis de nem sei quantas estrelas, campos de golfe com não sei quantos buracos, e outras coisas que tais, pouco ou nada virão acrescentar à qualidade de vida dos que mourejam por entre os vinhedos agora tão na moda
apreciar, e tão repentinamente descobertos, quase como se já não aí estivessem há que séculos.
Não que isto dizer obviamente, que não julgue como óptimas semelhantes coisas, e que tudo se deva fazer para as trazer para cá, bem antes pelo contrário. Mas é que vieram-me à ideia imagens de outros locais do
Terceiro - Mundo, onde não faltam hotéis do mais elevado luxo, repletos de turistas de todos os cantos e com carteiras a abarrotar, mas que estão rodeados
de tanta miséria que até faz doer a alma de quem a tiver.
Não é felizmente o caso da nossa região, pois miséria é coisa de tempos idos, e esperemos que não vindouros. Quando muito, pode dizer-se que não se vive assim lá muito bem, como se podia viver, mas também convenhamos que mal, mal, também não pode dizer-se que se viva, pelo menos por ora.
Agora, o que se pode dizer, é que se podia viver muito bem, e outro galo cantaria, se a cara batesse com o careto, e se à região onde é produzida uma das maiores riquezas nacionais, que o é, fosse feita justiça, e se fizesse ser nela distribuída essa mesma riqueza, em vez dela ser retirada para outras onde vai possibilitar o que devia possibilitar na região de origem.
Com o reconhecido e assumido potencial turístico, pode suceder precisamente a mesma coisa. Podem vir para aí uns senhores, donos de umas belas empresas sediadas não sei aonde, que fazem de nós criados de servir e pouco mais, e depois os lucros, esses acarretam-nos par onde muito bem entenderem, deixando-nos a ver literalmente navios, como se fosse fado da região ser teta que alimenta crias estranhas à criação.
Mas vem isto tudo ao caso, para dizer que no mínimo corremos no Douro o risco de tudo mudar ficando tudo na mesma, se continuarmos na postura já secular de esperar que as coisas nos caiam do céu aos trambolhões, ou trazidas pelos outros que só nos trazem ou nos deixam o que querem ou não lhes interessa.
Com todas essas coisas que para aí andam, e com outras que dizem que hão-de
andar, a não haver uma postura activa, interveniente e inteligente, por parte dos durienses e das suas estruturas representativas, quando tal ainda vamos acabar todos vestidos à moda antiga e a acartar vinho em carros de bois, para deliciar os estranhos que nos vêm apreciar com ar de quem já viu muito mundo e vem dar a este nosso que sofre de tanta indiferença que nem parece deste tempo.
Douro à moda antiga

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