Não será necessário ser-se muito esperto, ou estar-se muito atento, para se concluir das enormes potencialidades turísticas que a região do Douro ostenta, graças à obra erguida por mãos calejadas e muito suor no rosto dos nossos antepassados, e à natureza que não nos foi avara no espalhar por aí de belezas que não têm par.
Depois, mais não fosse, elas ressaltam bem à vista devido aos muitos e muito turistas com que nos cruzamos em cada esquina junto ao rio. Se eles por aí andam, não será decerto pelos nossos lindos olhos, mas é de certeza pelas coisas boas e bonitas que temos para lhes oferecer e mostrar.
Oferecer, é um modo de dizer, pois nem eles o querem, e nem nós temos obrigação de lhe ofertar seja o que for. Não é para isso que eles cá estão, e nem é para isso que nós por cá andamos.
No entanto, e aqui é que está a questão, o problema é que mesmo com todas as potencialidades, e apesar de se verificar uma crescente procura, o Douro, e os que cá labutam, pouco ou nada aproveitaram ainda desta riqueza que nos passa mesmo por debaixo das barbas mas que nós não estamos a saber aproveitar.
Esta evidência é por demais palpável, e são já muitos aqueles que a referem, e que não deixam em simultâneo de notar no entanto que uns poucos estão a ficar com a parte de leão das mais – valias que o turismo nos está a fazer surgir.
No entanto à velha maneira desta região que soube construir a única obra incomensurável com que podemos assombrar o mundo, como dizia Miguel Torga, não passam esses muitos de uma atitude própria do muro das lamentações, como se o remédio capaz de inverter a situação possa vir a cair do céu aos trambolhões.
Agora, anda par aí tudo mais ou menos eufórico, ou pelo menos querem-nos fazer crer isso, com o dito Plano de Desenvolvimento do Vale do Douro, nome pomposo, cheira-me, para mais um conjunto de boas ideias e intenção que nada tarda ficará na gaveta das coisas esquecidas, coberta pelo manto da nossa indiferença.
Dizem que por aí vão aparecer uma série de infraestruturas do melhor que há no mundo e capazes de fazer pirraça. Pois bem, que as construam depressa e bem, mas não nos tentem fazer de indígenas ao serviço seja de quem for, apesar da nossa posição de colónia a quem sempre levaram as riquezas.
Não temerá sem fundamento, quem vislumbrar num futuro próximo, um Douro ao jeito de um território quase deserto, sem gente que o emoldure, e sem almas vivas que lhe continuem a essência rica de quem muito sofreu para dar néctares dos deuses a provar ao mundo, e foi capaz de escrever estes Lusíadas sem Camões, como escreveu um grande vulto das nossas letras, cujo nome, confesso agora, me não ocorre.
Contudo, não é forçoso que a desgraça aconteça, e que seja assim tão escuro o céu por cima dos nossas escadas que parecem tocar o céu. Basta que de uma vez por todas, se esqueçam os umbigos próprios, se coloquem de parte interesses de paróquia, e se saiba exigir o que nos prometem.
Basta que o Douro comece a deixar de ser paciente e indiferente, e passe a ser impaciente no que lhe acenam como de direito, e passe a ser inteligente nas escolha das metas que se propõe de mote próprio alcançar.
Douro Inteligente

Douro Inteligente
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