A extrema-Direita Suíça propôs um referendo sobre a proibição de a Comunidade Muçulmana contruir minaretes altos nas suas mesquitas. Que crime a Extrema-Direita Suíça ter proposto tal referendo através de 115.000 assinaturas, quase 2% da população suíça e os Suíços terem aprovado por 57% tal proposta!
O minarete é uma torre de onde os moazirs apelam à oração. Mas, no caso suíço e alemão, a Comunidade Muçulmana quer os minaretes mais altos do que as torres das catedrais cristãs católicas e do que as torres das catedrais cristãs protestantes. Há outra diferença: os moazirs apelam às oração num som estridente e prolongado, ao contrário dos sinos católicos e protestantes, cujo toque é esporádico, ainda que inadmissível durante a noite porque perturbador do descanso dos habitantes próximos.
Estamos pois confrontados com dois radicalismos: o Católico/Protestante que, há séculos, também quis impor as suas torres e, lentamente, se foi secularizando ao ponto de cair no amorfismo e no descrédito. E o Islâmico /Muçulmano que, pujante, dinâmico e radical, quer islamizar e impor os seus símbolos de autoridade religiosa ao mundo. E já não é preciso muito porque a Europa caminha avassaladoramente para a islamização. Por este caminho, dentro de 30 anos, será islâmica.
Aonde eu quero chegar é que quando discutimos liberdades, todas são legítimas, e não apenas as nossas. E que, quando há confronto de liberdades, compete ao Soberano de Rousseau, ou seja, à Comunidade, isto é, ao POVO, na democracia actual, resolver o problema. E o POVO Suíço resolveu.
Alguns pseudodemocratas europeus logo começaram a criticar o Povo Suíço. Porém, foi em nome da liberdade e através da mais democrática forma de decisão democrática - o referendo - que a decisão foi tomada.
Concordo com a decisão do POVO Suíço. E quem sou eu para pôr em causa a opinião de quatro milhões de votantes? Um minarete mais alto do que a torre da Igreja não pode ser interpretado como uma provocação? Cada Povo é soberano no seu território e o processo de decisão foi transparente e legítimo, na democracia mais aperfeiçoada do mundo (Arendt Lijpard, Samuel Lipset, Olivier Duhamel, Madeleine Grawitz, Anthony Arblaster, Anthony Giddens, Henrique Ferreira).
Andámos 360 anos (desde a Paz de Westefália, 1648) a lutar por um estado laico. Abominámos Henrique VIII pelas suas crueldades religiosas. Mas, agora que o cristianismo está em agonia e com ele os valores da tradição ocidental; agora que o único valor da democracia parece ser o umbigo de cada um, estamos a entregar o estado laico à islamização impensada e à nossa incapacidade para pensar e para nos organizarmos. Impõe-se por isso a evolução do cristianismo para formas universalistas.
Se outro motivo não tivesse para invocar Alexis de Tocqueville, Benjamin Constant e John Stuart Mill e as suas proclamações e receios de que a democracia é o regime da mediocridade, aqui temos a prova de que uma apreciável quantidade de europeus já não quer pensar nem discutir as questões e princípios da nossa vida em comum. Por isso eu, co-fazedor do 25 de Abril, me estou a tornar num adversário convicto desta miséria democrática, que não da pura, da verdadeira democracia.
Por mim, as muçulmanas e os muçulmanos são bem vindos desde que respeitem a nossa forma de vida e desde que não queiram impor-nos a sua. Nesse respeito, também respeitaremos a deles.
Neste acordo, no de que o espaço público não pode ter qualquer interferência religiosa e no de que os direitos e liberdades individuais e colectivos são para respeitar, num só país e numa só lei, igual para todos, viveremos em paz.