Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Dia dos Mortos: memórias de que ninguém (ou quase ninguém) fala

Hoje tudo passa pelo enfeitar das sepulturas. Outrora havia também as “Procissões dos Ossos”. Os criminosos, sentenciados a morrer nas forcas, ali ficavam a apodrecer e ninguém recolhia os seus corpos. Sem amigos e, tantas vezes, rejeitados pela família, aqueles míseros esqueletos aguardavam dias, semanas e meses por uma oração ou por um gesto de compaixão que não havia.

Era então neste Dia que os irmãos das Misericórdias se deslocavam às forcas, em procissão, cobertos de negros balandraus, e recolhiam os ossos em esquifes transportando-os para os seus locais sagrados de enterramento, num cerimonial de apelo profundo à compaixão divina para com a alma daqueles infelizes, que terminava com uma missa. Sabe-se que, mesmo quando não havia ossos a recolher, a procissão se realizava à mesma, num tempo em que os rituais tinham um sentido inabalável.


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