Luis Ferreira

Luis Ferreira

Derrotas e vitórias

As eleições autárquicas aconteceram uma vez mais e, hipocrisias à parte, penso que todos estavam à espera dos resultados que se verificaram. O que aconteceu, quer a nível regional, quer a nível nacional, não foram surpresa para ninguém. Aliás, se o foram, foi no Porto e talvez em Braga. Mas será que alguém estava à espera de outra coisa?
Os resultados a nível nacional vieram demonstrar que o povo quis penalizar os partidos do governo por toda a situação de austeridade que se tem vivido. Mas a verdade é que não castigou só os partidos do governo. Na verdade, as ilações que cada um tira destes resultados, servem somente a quem interessam. Justificam algumas advertências proferidas certamente, mas não dão solidez a outras, especialmente quando os resultados não se encaixam nos objectivos pretendidos.
Falar de vitórias e de derrotas de determinados partidos é sempre almofadar pretensões, sejam elas de quem vence como de quem perde. Afinal, nunca nenhum partido quer perder seja o que for. Os números de votos é que acabam por escalonar os vencedores e os vencidos. No entanto, mesmo com os números à frente, há sempre algo que se faz ou se diz para justificar tais resultados, tentando minimizar a derrota ou enaltecer a vitória.
Os comentadores nacionais foram quase unânimes em apontar a derrota do PSD e afirmar a vitória do PS. Muito embora eu não considere os resultados tão lineares quanto isso, o certo é que ninguém esperaria coisa muito diferente. Já todos esperávamos que o povo português iria castigar os partidos do governo pelas agruras que nos têm feito passar. É natural. Não há aqui vitória de ninguém a não ser a do povo português que, tendo na mão uma arma primordial, sabe usá-la quando é necessário e agora usou-a. Dizer que o PS ganhou alguma coisa só é válido porque se contabilizam os municípios globalmente, mas isto também só é possível porque o povo tinha que castigar alguém pelo que tem passado. E sito aconteceria independentemente de quem governasse tal como aconteceu há dois anos atrás, ou será que já nos esquecemos do que aconteceu? Pois é, o povo castigou o PS pela situação desastrosa em que meteu Portugal!
Se hoje o PS tem alguma vantagem não é pelo que ele promoveu, mas pelo que o PSD e o CDS não conseguiram fazer para minimizar a austeridade a que temos estado sujeitos. É natural que assim seja.
Quando digo que as coisas não são tão lineares como parecem refiro-me ao facto de determinados resultados serem completamente contrários a quem proclama vitórias. Se se diz que o PS foi um vitorioso nestas eleições, tal não é verdade, por exemplo, em Braga onde ao fim de mais de trinta anos acaba por perder a terceira cidade do país ou, se quisermos, não conseguir ter um resultado positivo no Porto para não falar em outras localidades como Évora onde foi ultrapassado pela CDU. E outros exemplos se poderiam enumerar.
Seja como for, é notório que o povo português quis mostrar um cartão amarelo ao governo, mais do que dar a vitória fosse a quem fosse. Aqui não há um voto no mais querido nem no mais apetecível, mas nos únicos possíveis que, de uma forma ou de outra, estão arredados das decisões que determinaram o rumo da política nacional. Nada mais do que isso.
Assim, as conclusões que cada um possa tirar, servirão para sustentar o seu próprio ego e não poderão justificar honestamente, qualquer outra pretensão partidária. É verdade que o PS quer tirar para si toda a glória e toda a fama pelos resultados obtidos. Também é verdade que o PSD perdeu municípios que não esperava e teve um resultado inferior ao de há quatro anos atrás. Mas também penso que não esperava desfecho muito diferente.
O CDS acaba por sair vencedor, pois de uma câmara passa a cinco ganhas o que é, em termos percentuais, uma enorme vitória! Teve mais votos e mais câmaras. Saiu vencedor.
Por aqui, nada de novo. O PSD ganhou como tem ganho e outra coisa não era de esperar. E se alguém esperava scores diferentes, enganou-se. As coisas variaram muito pouco em termos de votação. Inicialmente muitos pensaram que poderia haver uma divisão de votos o que dificultaria escrutinar um vencedor à partida, mas com o tempo e o desenrolar da campanha, tudo acabaria por encaixar na normalidade a que já estamos habituados.
Os dinossauros autárquicos acabaram. Agora o futuro ditará ou não, a afirmação do novo ciclo de autarcas. As derrotas de hoje poderão ser as vitórias de amanhã.


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