Demasiado doloroso porque a negligência e o populismo foram de mais
As medidas ontem anunciadas vão ser profundamente dolorosas e podem dar em pouco porque vão lançar a economia numa recessão ainda mais profunda, correndo-se o risco de não vir a arrecadar a receita prevista.
É verdade que, no quadro actual, tinham de ser tomadas medidas mas elas resultam da negligência dos governantes que tivemos, ao longo dos 35 anos de democracia, e, especialmente, nos últimos 25. Cavaco Silva e António Guterres iludiram-se com os proveitos vindos da União Europeia e Durão Barroso e José Sócrates meteram a cabeça na areia como a avestruz e não quiseram ver o que muitos - entre os quais eu próprio - fomos denunciando ao longo dos últimos dez anos. POrque, quando não se faz prevenção, a cura da doença é muito mais dolorosa.
Agora, a dor é para os muitos que vão sofrer as consequências do populismo, sobretudo os que trabalham porque é sobre esses que se abate o custo. mantendo-se intocados os privilégios dos «boys» (despesas de representação e cartão de crédito) e do luxo de Lisboa, dos institutos públicos, das empresas públicas e das autarquias.
Além disso, o Governo toma para nós todos o encargo futuro das pensões dos 30.000 pensionistas da PT a troco do défice de 7,3%, este ano, e do pagamento dos submarinos, de outro ex-governante populista, Paulo Portas. Aquele encargo é um preço demasialto a pagar no futuro.
Vão-se os anéis, fiquem os dedos, diz o Povo. Mas, no nosso caso, nem os dedos ficarão porque, com estes procedimentos, nem dedos haverá para fabricar novos anéis.