Chrys Chrystello

Chrys Chrystello

Da escravidão perpétua

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  CRÓNICA 414 29.8.2021

DA ESCRAVIDÃO PERPÉTUA

Por vezes acontecem ideias a meio da noite ou em sonhos de despertares súbitos. Totalmente exsudado despertei e entendi a máquina que move os humanos. Lembrei-me das civilizações de Grécia a Roma. Entendi pontos obscuros da teoria dos multiversos, ou universos paralelos e o que há de comum em toda a História.

Locke é considerado como "o último grande filósofo que procura justificar a escravidão absoluta e perpétua". Ao mesmo tempo que dizia que todos os homens são iguais, defendia a escravidão a exemplo de Aristóteles, que foi o primeiro a fazer um tratado político defendendo a escravidão. Nesse tempo era comum, Locke era um homem da época - o que não diminuiria a importância das ideias, revolucionárias em relação ao seu tempo.

Há mais de 2500 pessoas todos os meses a arriscar a vida na fuga à guerra, à fome, violações, escravatura, para uma grande parte morrer afogada no Mediterrâneo, ou ficar detida em novos campos de concentração de Ceuta a Itália, Grécia etc., mas a TV não está lá.

No Congo, ex-Belga, de mil e uma guerras e de um genocídio (poucos falam, seriam 10 milhões? Fora os amputados e outros) há milhares de crianças de 4 anos e mais, escravas, a trabalharem em minas a céu aberto, para produzirem minerais indispensáveis aos telemóveis que todos usamos (exº lítio), mas a TV não está lá.

 Na Palestina a vida miserável nas pequenas faixas de terra que Israel ainda não anexou, não permite que uma criança tenha infância, só existe um caminho o do ódio e da guerra contra os opressores, mas o Facebook não permite mostrar e a TV não está lá.

Na Líbia e noutros locais longe do alcance das câmaras de televisão há crianças, mulheres e homens a serem vendidos como escravos (menos de 20€ por cabeça), como acontecia há cinco séculos, sempre aconteceu, e a imagem abaixo ilustra (Líbia) mas também não estava lá a TV durante horas a comentar o preço de venda de seres humanos, com a corte de comentadores especializados.

Não sabemos quantos milhares de afegãos ficaram sem poderem escapar aos talibãs em agosto 2021

O mesmo nas imagens dos aborígenes australianos em pleno séc. XX. Nem quantos iemenitas não puderam fugir da guerra que se perpetua no seu país, e na Somália, e em tantos outros locais.

 Libyan Slave Trade: Here's What You Need to Know | TimeImage result for aboriginal slaves

Image result for australian slaveryAborígenes australianos em cativeiro séc. XIX-XX.

“A escravidão não é coisa do passado e nunca foi tão lucrativa”.

O alerta vem do advogado, autor e ativista Siddharth Kara, um dos principais especialistas em tráfico de pessoas e escravidão, temas que leciona na Universidade de Harvard. “Nenhum país é imune e somos todos cúmplices. A escravidão permeia a economia global mais do que em qualquer momento do passado”, diz. A estimativa é que a escravidão gere lucros de 150 biliões de dólares por ano. Há 21 milhões de escravos no mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Nos últimos 17 anos, Kara entrevistou mais de 5 mil pessoas que estão ou estiveram nestas condições em mais de 50 países.

Mas afinal de que escravidão falamos?

Há uma forma generalizada e comum: “Nunca ninguém foi verdadeiramente livre” por mais aparência que existisse, como as gerações entre 1960 e 2000, em que mais liberdadezinhas houve no mundo ocidental. Sempre houve normas e convenções, embora a humanidade tenha estado dependente dos desígnios da minoria mandante que dita os moldes da escravidão em cada era, desde a fixação do horário de trabalho, à remuneração, recompensa por bom comportamento dos súbditos, até à existência ou não de tempos de lazer, se tal não afetar a capacidade produtiva.

Ninguém escapa a esta engrenagem, nem mesmo os que, pretensamente, vivem off-the-grid (fora da rede), pois necessitam de bens produzidos pelo sistema e a troca direta “barter”, nem sempre é possível.

 

Os desprovidos são os desempregados, sem-abrigo e os que fugiram ao ciclo produtivo, com liberdade de fazerem o que quiserem desde que seja gratuito, o que os limita a viverem à sombra da bananeira, numa ilha deserta, rica para a alimentação, vestuário e outras necessidades. Só é possível em literatura de ficção. Os senhores do mundo, usam os instrumentos ao seu dispor, desde a escravatura materialista das sociedades contemporâneas à religião, à contrainformação, aos espetáculos circenses que reproduzem a máxima romana de “pão e circo (panem et circenses)” que vai dos mundiais de futebol a outros alegados desportos dominados pela máfia do dinheiro, anestesiando as massas e criando escape a sentimentos reprimidos.

Basta averiguar o mito das férias que perpetuam a escravatura consumista. Se estiver numa ocupação produtiva remunerada, provavelmente recebe um montante extra para gastar, caso contrário, nem subsídio de férias. Se (por ex.º) viver na Lomba da Maia, sem dinheiro extra nem carro, vai a pé 4 km até à Praia da Viola e chamará a isso férias, ou aproveitará o tempo para cuidar da casa, pintá-la ou renová-la com o seu trabalho gratuito e chama a isso de férias. Se vai para fora (cá dentro ou lá fora) de férias e já entrou num esquema de crédito ao consumo, nunca mais se libertará do ciclo vicioso de trabalhar para pagar ao banco o que pediu emprestado e os juros exorbitantes da invenção a que chamam dinheiro. Endividou-se para estudar, então trabalhe, para reembolsar a banca, que sobrevive explorando-o a si e aos demais.

Se pensa que não é um escravo, pense na vida dos seus antepassados e (na grande maioria dos casos) verá como é apto o título desta crónica.

E se pensa que os donos disto tudo são livres, desengane-se, sem nós, escravos perpétuos, eles nada são e têm de se certificar constantemente de que há muitos escravos para manterem o sistema a funcionar. Por mais oleado que o esquema esteja, precisam de inventar continuamente novas normas e retribuições, fake news, para que a roda dentada da engrenagem continue a funcionar e dar lucros, cada vez maiores.

Até eles são escravos da escravatura que impõem aos outros.

Seria uma vida mais livre e menos escrava antes de se ter inventado o dinheiro? Não há relatos fidedignos.

E os poetas, sonhadores, escritores, enganam-se pensando que são livres, apenas na realidade virtual atingem esse modicum enganoso de liberdade.

PENSE BEM NISTO ANTES DE COLOCAR O SEU VOTO NA URNA E DECIDIR QUEM O VAI GOVERNAR.


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