Há vários motivos para se entrar na política. Para mim, apenas faz sentido se for em nome de um projecto para a sociedade, de um conjunto de ideias. Há também várias formas para se estar na política. Para mim, política apenas faz sentido se for praticada em nome de valores e com total clareza e transparência. Sem qualquer necessidade pessoal.
Foram estes os motivos que me levaram a filiar numa juventude partidária aos 14 anos e num partido político aos 18 anos. Foram também estes os motivos que me levaram a desfiliar 10 anos depois da primeira filiação.
Permitam-me particularizar este artigo. É verdade que tudo o que vivi é uma experiência pessoal, mas acredito que muitos se reverão. Também é verdade que pegando neste pequeno exemplo, podemos pensar como vai a política partidária em Portugal.
Um partido político – neste caso o CDS – ao longo da sua vida deve evoluir, propor-se novos objectivos e questões. É desejável que assim seja. Quando a mudança atinge os motivos da sua criação, é porque o partido já não é o mesmo. Foi isto que aconteceu no CDS. Houve vários posicionamentos do partido perante a sociedade, várias abordagens e até respostas aos mais variados temas. Hoje, a mudança atingiu os alicerces do partido até ao ponto de deixar de se assumir como alternativa ao socialismo. É neste partido em que eu não me revejo.
Os últimos três anos representaram uma reviravolta no que o CDS-PP é e pretende ser. De Centro Democrático Social – Partido Popular, passou a ser de Cegos Defensores e Seguidores do Partido de Portas. Para começar pelo mais básico, não acredito num partido que viva apenas com objectivo de atingir o poder - seja como for - e de alimentar aspirações sociais de uns poucos. A política necessita de quem a sirva, não de quem dela se sirva.
Assisti, há cerca de três anos, a um episódio que julgaria impossível em qualquer partido político português, quanto mais naquele que sempre foi o meu. Hoje tenho a consciência que foi o inicio do fim. O mal trato a uma Senhora que Portugal respeita – a Dra. Maria José Nogueira Pinto – mostrou ao país a triste realidade que se vivia no CDS. De um projecto para Portugal passou-se a um projecto de e para um grupo que necessita – qual peixe fora de água – de um palco mediático para sobreviver; de um partido considerado passou-se a um partido de pequenas favelas onde interessa o nível de pressão interna e não as provas prestadas à sociedade. Foi nessa mesma altura que se viveu um motim no CDS. Não discuto o resultado pois os militantes pronunciaram-se, ainda que dele discorde. Discuto – e fá-lo-ei sempre! - o modo como tudo se desenrolou e os tristíssimos episódios a que todos assistimos.
Apesar de discordar da liderança do partido, continuei a ser uma militante activa após a eleição do Dr. Paulo Portas. Enquanto o CDS representasse os valores que nele me fizeram filiar, era a minha casa e não se abandona a própria casa por quem a dirige. Mas as mudanças continuaram e chegaram a um ponto em que continuar militante do partido, era ser cúmplice da podridão que tem afastado a população em geral da política. Refuto desde já o argumento que quem saiu foi por não ter cargos no partido. Saio enquanto Conselheira Nacional do CDS e Presidente da Distrital de Bragança da JP. Ao ter que optar entre ser fiel aos meus valores e consciência ou sê-lo ao meu partido, opto indubitavelmente pelos primeiros.
Se há factos que falam por si mesmos, permitam-me referir quatro casos a que me absterei de fazer quaisquer comentários.
1 -Destacados dirigentes do CDS mudam de posição relativamente aos mais variados temas porque o Dr. Paulo Portas publicamente também o faz. Veja-se o caso das eleições directas para o presidente do partido em que quem hoje as defende foi quem as enxovalhou em praça pública há alguns meses atrás… Não há coerência nem estabilidade de propostas.
2 - Inúmeros são também os casos em que o partido toma uma posição a nível externo e a nível interno defende o seu contrário. A título de exemplo, veja-se que actualmente a direcção do CDS defende dois tipos de representatividade política. A nível externo, considera \"benefício do regime democrático\" a manutenção do sistema da proporcionalidade e do método de Hondt. A nível interno, este método foi afastado.
3 - No início do Verão, fui convidada a estar presente numa reunião em Constança, onde estava a grande maioria de estruturas eleitas do distrito. Estava também lá o Deputado José Paulo Carvalho, enquanto Deputado Padrinho do Distrito (uma figura que o CDS instituiu para haver Deputados responsáveis pelos círculos eleitorais onde o partido não elege). No início da reunião, o Presidente da Distrital do CDS acintosamente disse que o Deputado José Paulo Carvalho já não era mais “Deputado Padrinho”, quando este se estava a limitar a cumprir a sua função e contactar com a população. Ninguém sabia da destituição, nem o próprio Deputado. Até hoje - a mim e a todos os outros presentes na reunião - não soube o Grupo Parlamentar desmentir tal insinuação, não defendendo quem o representava.
4 - O CDS, não faz oposição ao PS, como bem claro ficou ao apoiar a guerra institucional que o Governo fez ao Senhor Presidente da República com o Estatuto dos Açores.
Neste momento pretende institucionalmente o partido gerar confusão em torno de dois temas: as desfiliações que entretanto tiveram lugar e a permanência do Deputado José Paulo Carvalho na Assembleia da República.
Quanto às desfiliações, sempre ouvi dizer que dá mal resultado tapar o sol com uma peneira. É o que o CDS está a fazer. Ao jogar com os números e transformá-los, o CDS nada ganha, apenas perde…
Quanto à passagem do Deputado José Paulo Carvalho a não inscrito, parece-me de elementar clareza que o seu compromisso é com o eleitorado e não com o partido político. Os Deputados valem pelo seu valor pessoal, pelos valores que representam e pelo programa que defendem. Estou certa que o eleitorado Democrata-Cristão – de que continuo a fazer parte – se sente revisto nas suas posições, propostas e posicionamento.
Importa pensar livremente em Portugal, seguindo os valores de cada um e não deles abdicar ou abrir mão por conveniência partidárias. A política estará sempre presente na vida de cada um e julgo que – partidária ou não – cada um de nós que julgar poder contribuir para a mudança da realidade que aqui apresento não se deve abster de o fazer. Mas por defender que esse caminho deve ser feito em consciência e em nome de um projecto para Portugal, não encontro para isso lugar actualmente no CDS-PP.
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