No passado Sábado mais uma enormíssima manifestação inundou por completo a baixa lisboeta. A verdade, é que ninguém que passou pelo centro de Lisboa – incluindo-me a mim – conseguiu ficar indiferente ao protesto de inúmeros professores. Confesso que um dos pontos que mais me marcou nesta manifestação, foi o facto de não se ouvirem, por parte dos participantes, as vagas frases habituais nestes contextos como “queremos mais condições!” ou “ protestamos porque assim não pode ser!”. A toda e qualquer pessoa que estivesse disposta a perceber os motivos concretos que levaram milhares de professores de todo o Portugal Peninsular e Insular a sair à rua, era plenamente esclarecida. Eis uma bela lição dada pelos professores a Portugal, que se diz e se quer democrático.
Para quem como eu – ó inocência das inocências – acreditava que nada na política portuguesa me poderia já deixar boquiaberta, eis que vem a Ministra da Educação e o Primeiro-ministro provar o contrário. A Senhora Ministra - com a arrogância habitual e que nem a proximidade da época Natalícia parece conseguir demover – quer fazer o país acreditar que os Professores deste nosso Portugal são objectos nas mãos dos sindicatos, autênticas ovelhas que não sabem por si mesmas decidir e verificar o que se passa em seu redor. O Senhor Primeiro Ministro, simplex nas palavras de auto-elogio constantes, parece não conseguir (e diga-se em abono da verdade que nem sequer parece pretender!) desligar o “complicómetro” que introduziu na Educação em Portugal.
Se há em áreas que o simplex – nem que seja em teoria – parece dominar, na educação com o actual sistema de avaliação, parece ser o compliquex que está a dar. Ora são inúmeras grelhas, ora é selecção incompreensível de quem avalia quem, ora os critérios de avaliação, ora a burocracia que ascende a um ponto capaz de ultrapassar em larga escala a carta ao Pai Natal da mais sonhadora das crianças. Avaliação? Claro que sim! Mas uma avaliação que não o seja só de nome e muito menos para construir números para o Ministério. Há que estabelecer uma avaliação com vista à meritocracia, ao interesse do Ensino em Portugal, do sistema escolar e da transmissão de conhecimentos aos alunos. Numa democracia recente como a nossa, parece-me muito mal sinal quando se pergunta se a manifestação servirá para alguma coisa. Não é esse um dos ditames da democracia, estando nós a falar em mais de 2/3 dos profissionais de uma classe que saiu à rua?! E, por favor, Portugal está cansado do discurso de manipulação sindical ou partidária! Sejamos intelectualmente honestos: marcharam na baixa lisboeta sindicalizados e não sindicalizados, apoiantes de todos os partidos e ideologias que mais não pedem que espaço para abraçarem a profissão que escolheram: ser professores.
Duas notas breves para concluir, uma negativa, outra positiva. A primeira para reforçar total repugna pelo facto de 6 dos 12 concelhos do nosso distrito terem ficado fora do PIDDAC, triste notícia que mais uma vez se vinha adivinhando. A segunda, francamente positiva, para a cidade de que sou natural, é o facto do Professor Adriano Moreira – um dos poucos verdadeiros intelectuais actualmente vivos que o nosso país alberga - doar o seu espólio a Bragança.