Fosse a região do Alto Douro Vinhateiro uma região mais atenta e com mais massa critica, e por estes dias que se passaram haveria de ter sentido uma pedrada no seu rio bem capaz de produzir ondas mais fortes que mar revolto em dia de tempestade.
A pedrada que aconteceu mas pouco se fez sentir à forma do costume, foi atirada sob a forma de uma carta aberta que o senhor doutor Luís Roseira de Covas de Douro , produtor – engarrafador, escreveu ao senhor engenheiro José Sócrates, nado e criado em Vilar de Maçada e primeiro – ministro em exercício de Portugal.
O signatário, é pessoa por demais conhecida na região, ainda que o devesse ser muito mais por aquilo que sempre fez, e por aquilo que representa. Homem já para cima dos seus oitenta, desassombrado e lúcido, habitou aqueles que sabem dele a ouvir pela sua boca verdades nuas e cruas, onde não faltou nunca o clamar por mais justiça para a região e mais para aqueles que com o suor do seu rosto e a força dos seus braços lhe deram forma. Sabe por aquilo que viu, dos tormentos vividos pelos homens, pelas mulheres e pelas crianças que durante gerações passaram a vida em redor das vides, a granjear a terra de fraguedos britados conseguida, mas sabe da endémica falta de iniciativa tão própria dos durienses que os levou a deixar que outros sempre lhes cuidassem dos assuntos próprios.
Inconformado desde sempre, não se quedou a guardar a porta do seu armazém com temor que lhe descobrissem os seus modos de fazer bom vinho, ou lhe surripiassem umas pipas, e foi à luta pela democracia numa época em que tal significava uma verdadeira carga de trabalhos. Depois à frente no tempo, pioneiro, lançou ou ajudar a lançar as bases daquilo que seria a possibilidade de se produzir, engarrafar, e exportar directamente da região do Alto Douro, conforme agora vem sendo cada vez mais recomendado, para desassossego de alguns que pelo modo como as coisas historicamente andaram sempre se aproveitaram das nossas novidades.
Desinquieto com o modo como a situação regional estagna, e com o agravar de uma crise que mais pareceria fruto de malapata se lhe não soubéssemos dos contornos, veio agora de novo dizer o doutor Luís Roseira “ que o rei vai nu”, e alertar para o pouco ou nada que se fez, desde que a 31 de Agosto de 2006 o chefe do governo no Salão Nobre da Casa do Douro na Régua afirmou que as soluções estavam encontradas, e que bastava aplicá-las.
Todos hão-de jurar que ao momento se disse que “ agora é que ia ser”, mas bem se lamenta ele na carta ao nosso governante que a coisa não ata nem desata, e que “ O Douro continua à espera, mas o futuro não pode esperar mais”.
Caustico e critico como lhe é timbre, e com a autoridade do seu percurso e das suas barbas que seriam alvas caso as usasse de tão longa ser já a sua vida, que Deus Nosso Senhor mantenha, Luís Roseira duriense dos quatro costados aponta na sua missiva de novo as soluções por demais conhecidas, atiras as farpas que tem como pertinentes, mas essencialmente não se acomoda mediante estratégias ou interesses políticos mais ou menos imediatos ou ideologicamente arreigados.
Ele é pelo Douro, eu também sou, e por certo quem aqui chegou na leitura também o é. Li a carta que ele direccionou a Lisboa, gostei, e claramente a subscreveria se fosse caso disso. E o senhor, já a leu?