Neste vai e vem da política, tanto nacional como internacional, as coisas acontecem por vezes demasiado depressa, tão depressa que nem dá para avaliar de imediato a gravidade dessas mesmas coisas que acontecem.
A corrida que agora começa para as eleições autárquicas, arrasta uma enormidade de actuações acompanhadas de pensamentos, palavras e poucas obras, que chegam a baralhar quem é apanhado no meio de tanta promiscuidade verbal. A contenção, parece que se esvaziou de sentido, tal como o bom senso. Não bastam as asneiras que se cometem, ainda se agravam com ditos e ameaças, só dignas de uma cultura de baixo nível e de alguém que perdendo o lugar, perdeu igualmente as estribeiras. Mas o castigo vem a caminho...
Pires de Lima proferiu acusações graves em relação ao governo. Tanto mais graves que foram dirigidas ao próprio António Guterres, na pessoa, portanto, de Primeiro Ministro. Este não respondeu a tais acusações. Limitou-se a responder o Ministro António Costas, mas em tom e âmbito meramente formal, aliás como lhe competia. Mas de Guterres, nada, ou muito pouco. Pires de Lima volta à carga, sem medo e com toda a legalidade do seu lado. Disso sabe ele!!! Nem assim, o Primeiro Ministro reage. Para quê, sabendo que o Bastonário da Ordem dos Advogados tem razão?
Assim sendo, o país ficou a saber que o Primeiro Ministro de Portugal cometeu um crime grave, ao violar o segredo de justiça revelando actuações secretas nacionais. Não o devia ter feito e devia pedir desculpas por tê-lo feito inadvertidamente.
Bom e agora aonde nos leva isto? Podemos analisar levemente esta questão comparando-a com outras de menor gravidade e que aconteceram não há muito tempo. Ora vejamos: o que aconteceu a Júlio Meirinhos por ter dito verdades que sentia, mas que não deveria ter dito por representar o governo? Teve que se demitir, deixando o lugar de Governador Civil de Bragança. O que aconteceu a Armando Vara por ter formado uma Fundação que operava em paralelo com o seu próprio Ministério? Teve que se demitir, deixando o lugar de Ministro vago para outro ocupar. O que aconteceu ao Ministro Jorge Coelho pelo facto de a ponte de Entre-os-Rios ter caído, sem culpa dele? Demitiu-se, deixando António Guterres sem o seu braço direito. Aqui, no entanto, Jorge Coelho nunca deveria ter-se demitido. A demissão foi o afastar as culpas, que não tinha, mas que acabou por ter, através do acto que fez e das palavras e acções que proferiu e fez a seguir. Se queria provar alguma coisa ou acusar alguém, deveria ter permanecido no lugar de Ministro e levar por diante os inquéritos necessários para descobrir culpados. Mas enfim! Agora, que nada tem a defender, até já ameaças faz! Francamente!
Então e António Guterres, o Primeiro Ministro de Portugal? Não lhe acontece nada? Então comete um crime muito mais grave do que o que os outros cometeram, e não se demite? Será que não reconhece os erros que comete? Será que pode continuar a fazer erros, uns atrás dos outros, sem que nada lhe aconteça? Onde pára a justiça, agora? Se os crimes são para julgar, então que se julguem. Caso contrário, para que serve a justiça? Não basta acusar, é preciso julgar. Se ele aceitou os pedidos de demissão dos seus homens de governo, por coisa muito menor, que seja coerente e que faça o mesmo. Ou será que quer seguir o exemplo do senhor Millosevic, que apesar de tantos crimes cometidos, ainda diz que não é culpado e não quer ser nem preso nem julgado?
Cá, como lá, a justiça deve ter um rosto único, já que ela serve para julgar homens e estes são todos iguais em toda a parte do Mundo. Só mudam as atitudes! A atitude perante as responsabilidades e perante os outros homens.
Por este andar, devemos preparar-nos para algumas surpresas. Eu não sou apologista de que Guterres se demita. Na verdade, o gesto ficar-lhe-ia muito bem, nem que pelo menos esboçasse somente a intenção de o fazer. Mas se as irregularidades, as falsidades, os atropelos, continuarem a ser cometidos neste país por quem não deveria, não me admiraria nada se viessemos a ter eleições legislativas antes das autárquicas, ou até conjuntamente!
A mim, pessoalmente, não me agradaria de modo algum. Se estamos mal, pior ficaríamos. Mas que não é meramente uma hipótese, não o é de facto! Nem seria a primeira vez que tal acontecia! A justiça e o governo, que não se limitem a julgar só os de cá! Os de lá são bem piores! Como se pode descer tanto em tão pouco tempo!?!
Cá como lá...

Cá como lá...
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