Manuel Igreja

Manuel Igreja

Bolas de Sabão

Das duas, uma. Ou o mundo anda muito torto, ou então nós estamos muito grossos, com as devidas desculpas perante vossemecês que ainda não perceberam o alcance deste meu dizer neste ponto da coisa.

Mas eu explico. Ou melhor, desenvolvo que é mais disso que se trata. Por exemplo. Aqui há uns dias, disseram as notícias, que um português que trabalha lá fora e que não cabe cá dentro, liderou um negócio em que uma empresa de carros comprou outra por dois milhões de euros, ou a passar. Limpinho.

Confesso que não faço a mínima ideia do tamanho de tanto dinheiro, mas imagino que com notas de cem coladas umas às outras, dará uma fita com lonjura que baste para ir e vir de minha casa até à igreja da minha terra, apesar de não ser propriamente uma escanchinha.

No entanto, não aí que bate o meu espanto. Sucede que ao mesmo tempo uma outra novidade que não é única, dizia que uma empresa daquelas em que um fulano num escritório com um computador cria uma aplicação, como dizem, que todos usam para tudo e mais alguma coisa ao longe, logo vale na bolsa de ações quinze ou vinte vezes mais.

Notas unidas, dará se calhar para jornada de ida e volta ao Porto. Ou mais, não sei. Caso os antigos que estudavam assuntos de economia vissem semelhante coisa, até se benzeriam com a mão esquerda de espanto para afugentar o mafarrico. Ou então chamavam-nos doidos barridos por termos deixados o mundo ir para onde está.

Quer dizer. Infraestruturas que fazem nascer do nada coisas de utilidade imediata criando riqueza e empregos, valem muito menos do que coisas que como bolas de sabão, reluzem bonitas, sobem no ar, mas rebentam de um momento para o outro sem que reste algo de jeito e de proveito comum.

Depois aflitos, doutos senhores começam a alertar para o facto de dentro de poucos anos, em cada três empregos, um ir ser ocupado por robôs, máquinas que antes só acendiam umas luzinhas e apitavam, mas que cada vez mais fazem tarefas tão bem ou melhor que os humanos.

Circunspectos, refletem e referem que se pode pensar em obrigar as ditas máquinas a pagar impostos como qualquer mortal, como se isso fosse o mais importante. Mas não é pelo menos no meu ponto de vista. Mais que isso que não passa de conversa para boi dormir, o que importa é que a riqueza produzida por eles, seja colocada mais e melhor ao dispor alargado da humanidade em vez de fazer proveito somente aos predadores que tudo controlam e nos levam para o precipício.

Volvendo à falta de senso. Ainda há pouco, as notícias diziam que na América, se vai disponibilizar dinheiro que no meu imaginar daria para encher nem sei quantos comboios, para se desenvolver tecnologia que permita colocar gente nossa na Lua e em Marte, e descobrir novos planetas. Isto enquanto por cá na Terra é o que se vê por mingua de recursos financeiros.

Quer dizer, já não basta estarmos a esbandalhar isto aqui e ainda queremos ir dar cabo de outros sítios. Cada vez acredito mais que os extraterrestres estão fartos de nos ver e que andam a esconder-se de nós por nos acharem meio amalucados.

Não? Então vejam se fazem o favor. Os Estados Unidos estão entregues a um desmiolado infantilizado. A Rússia está nas mãos de uma pessoa que a gente gela só de olhar para ela, e que quer mandar em tudo. Na Holanda um senhor com ar lerdo que não sabe a diferença entre a estrada da Beira e a beira da estrada, vai ganhar as eleições. Dizem. Na França, uma serigaita com ar galdério de quem gosta da farra, idem aspas, aspas.

Tudo porque espalham no vento as sementes do ódio e do medo, aproveitando a falta de poder de reflexão. Malabaristas da palavra e da imagem projetam como reais sonhos adiados e desejos prometidos, neste tempo e neste mundo oco e prestes a explodir mais uma vez como se fosse bola de sabão que toca rama de pinheiro verde. Deus queira que haja juízo.


Partilhar:

+ Crónicas