Manuel Igreja

Manuel Igreja

Até ele miar

Os dois homens mais importantes da União Europeia, ou por aí, engalfinharam-se em público. Enguedelharam que nem uns rapazes, porque um disse uma coisa que o outro achou que ele não devia ter dito apesar de ser verdade. Só faltou arrepelarem-se.

Disse um, Jean-Claude Juncker de seu nome, que a União não aplicou castigos à França, os mesmos que querem aplicar a Portugal, porque quem é grande é grande. O outro Jeroen Dijsselbloem de sua graça, teve como indevido e despropositado o comentário e não se conteve. Destratou-o.

Pareciam crianças muito longe de serem senhores na verdadeira aceção da palavra, pois para o serem ainda lhes falta comer muita rasa de sal e beber muito chá. Isto, porque na minha singela e quiçá injusta opinião, não passam de uns lacaios ao serviço dos que se apropriam à farta da riqueza mundial que hoje em dia se produz.
Quanto a mim, fazem isto por uma de duas razões, se não mesmo por ambas. Ou assim se prestam por ideologia, ou assim agem, porque lhes convém no fazer do seu caminho e de mais o dos que lhes estão perto.

A assim não ser, como se explica a alguém que ainda que esteja mais que visto e afirmado por organizações cúmplices e insuspeitas como o FMI, que a receita que se tem vindo a aplicar resultou mal, que mesmo assim a sua aplicação continue a ser exigida sob pena de represálias? Como se compreende que se produza mais riqueza que nunca graças às novas tecnologias, e que cada vez mais esta aproveite a cada vez menos pessoas? Como permitem?

Os defensores do neo liberalismo argumentam que com ele se aumenta a riqueza no mundo, mas não será bem assim. Digo eu. O que a História nos diz, é que ele aumenta as desigualdades e as tensões sociais, ao aponto de levar ao surgimento ou ao renascer de ideologias extremistas e a convulsões.

Lembremo-nos que por exemplo o comunismo surgiu como reação sentida para se fazer face às injustiças e aos desmandos do capitalismo sem regras. Mas não teremos de recuar tanto. Note-se no que se está a passar em nosso redor, na França, na Áustria ou na Alemanha, onde extremismos de má memória alicerçados na intolerância e no ódio medram a olhos vistos. Depois não digam que ninguém contava.

Mas volvendo aos tais senhores que deram por estes dias o triste espetáculo sem que a gente se admirasse, se calhar porque um tem cara de fuinha que come na gaveta, e o outro mais parece por vezes que abusa da pinga, quando se põe aos abraços e aos beijos a quem lhe está de perto.

Numa Europa sem rumo que nem sabe qual é o porto de destino, nos corredores do poder, no centro de decisão, gastam-se os neurónios a discutir coimas a países membros por causa de umas décimas em falta nas contas. Com um drama humanitário antevisto há mais de 20 anos bem junto ao ferrolho, doutos titulares não sabem ser mais do que criados de libré no banquete dos donos de disto tudo.

Não há ideologia que faça de boia de sinalização na navegação. O rumo é dado pela cenoura na ponta do pau. Democratas-cristãos e Social-democratas, mais não têm sido do que lambe cús, com as devidas desculpas de vossas excelências pelo termo.

A Europa que nos envergonha não tem estadistas nem merece que a cantem. Aos que a governam só apetece dizer como há muitos anos dizia um professor a nós que eramos moços por vezes fora da linha: - Era quem vos desse com um gato morto na cara até ele miar. Podia ser que aprendessem. Palavra.


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