Há 30 anos a sociedade portuguesa vivia momentos ímpares da sua História. Libertava-se de algumas amarras, velhas de anos e de propósitos e caminhava rapidamente para uma plataforma libertadora, ânsia de décadas, desejos de sempre.
Foi difícil de enfrentar a realidade política. A sociedade tremeu nas suas estruturas. A pressa de viver tudo de uma vez, atropelou tudo e todos. A incompreensão subjazeu. Outros se revoltaram e alguns tomaram consciência das asneiras desses outros. Quase uma anarquia!
Depois..., bom, depois foi o retomar de uma engrenagem governativa difícil, de contornos variados e de objectivos indefinidos. Foi um entra e sai de propostas e de rejeições. Tantas que o povo se fartou de imediato e começou a desejar outros tempos e outras virtudes.
Com uma governação sem maestria, lá se foi levando este barco imenso à procura de um porto seguro. Nada fácil! Ao fim de algum tempo, finalmente, surgiu o porto onde se pode ancorar tanta esperança de liberdade e de democracia.
Daí para cá, foi uma azáfama fantástica com a preocupação de prometer o melhor para fazer o necessário. Mas este era pouco para uma esperança enorme. Cada vez se exigia mais. Cada vez se dava menos. Era o possível, somente.
Andavam todos a aprender a caminhar e a equilibrar-se nesta estrada nova, feita de democracia e liberdade. Talvez até de demasiada liberdade! Houve abusos. Alguns! Mas caminhava-se! Avançava-se. Progredia-se. A custo.
Alguns aprenderam depressa a cumprir regras; outros a desrespeitá-las. Uns aprenderam a prometer e a cumprir; outros a prometer o que não podiam cumprir. Alguns a cumprirem o que não prometeram.
Durante anos tudo foi pesado, ponderado, governado. Ultrapassaram-se algumas barreiras, mas apareceram outras piores. Descuidaram-se pormenores. Esqueceram-se alicerces.
Hoje, o edifício que se construiu, assente em alguma democracia e demasiada liberdade, corre o risco de ruir. Só a ajuda de todos pode conter a tempo o desmoronar de tudo o que foi construído. Constatação e compreensão! Erros de uma desgovernação socialista que a todo o custo não aceita.
Envoltos numa cremnofobia latente, escusamo-nos a dar um passo em frente. Será improcedente a paragem, a estagnação.
O agora não é compatível com o passado. O agora não pode profligar completamente tudo o que se erigiu.
Que diremos à nossa juventude sobre as vicissitudes desta Revolução gloriosa? Que poderemos nós transmitir-lhe se não soubermos preservar os princípios que lhe deram origem? Que poderemos nós legar-lhe desta sabedoria imberbe que nos fez homens ao longo de todos estes anos? Que noção de diferença lhe podemos transmitir?
Ainda estamos a tempo de lhes dizer - foi ontem que aconteceu!
Ainda lhes podemos mostrar os parâmetros do seu desenrolar. Ainda lhes podemos contar como foi. Ainda estamos vivos!
O descambar para o precipício arrastará tudo e todos e mesmo a memória pode atraiçoar-nos. A escoalha rir-se-ia de todos nós se isso acontecesse!
Tudo o que fizemos tornar-se-ia incognoscível!
Não basta sentarmo-nos num dossel dourado, libertos do sol escaldante e da aridez do deserto e olhar o horizonte longínquo como forma de nos libertarmos das amarras que nós próprios construímos, ou deixámos construir.
A esperança, motor da revolução de ontem, deverá ser o motor do progresso de hoje.
Sem pretender possuir qualquer visão hierofântica, é fácil discernir o futuro próximo partindo deste presente, herança socialista, quase estagnado e à beira do abismo.
A dor imensa que se sente por não se cumprir Abril completamente, exige um antálgico enorme que só pode ser um passo em frente, decidido, orientado, inserido na globalidade de que fazemos parte e com a anuência e a vontade de quem pode mudar o rumo da política portuguesa. É isso que se está a fazer, estou certo. Devagar, que a pressa mete medo!
Abril abriu as portas para um corredor imenso, que é necessário percorrer. Parar é esquecer o esforço despendido. Há que continuar em frente. Até à vitória final.
30 Anos de liberdade

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