O denário e o resto da coleção de moedas romanas tinham desaparecido do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, no concelho de Alijó, nos anos 80.

A Polícia Judiciária recuperou num leilão em Espanha uma moeda romana em prata do ano 68/69 d.C., considerada peça da antiguidade clássica "única no mundo", e entregou-a hoje ao Museu Arqueológico D. Diogo de Sousa (Braga).

"É um denário [antiga moeda romana] de prata, do período das guerras civis, dos anos 68/69 [do tempo do imperador romano Galba], e portanto é uma peça única (...), emitida na Península Ibérica, na Hispânia", avançou hoje à agência Lusa o especialista Rui Centeno, que estudou o furto e o comércio de património numismático, nomeadamente "O caso do tesouro de denários do monte da Nossa Senhora da Piedade, em Alijó", no doutoramento.

A moeda romana apareceu num leilão em Madrid, em outubro de 2016, com uma base de licitação de sete mil euros. Foi descoberta e reportada pelo historiador português Rui Centeno à Polícia Judiciária, que acionou os trâmites necessários para que se conseguisse transferir aquele espólio de Espanha para Portugal.

A apreensão destas e de outras nove moedas romanas e a sua entrega hoje ao Estado português é o culminar de uma investigação da Judiciária, cujo inquérito foi aberto em 2016 no Departamento de Investigação e Ação Penal, explicou hoje à Lusa fonte daquela polícia.

A coleção de moedas romanas tinha desaparecido do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, no concelho de Alijó (Vila Real), e segundo a Polícia Judiciária, são património português. Foram furtadas em 1985 do santuário, depois de terem sido descobertas "dentro de um pote" durante umas escavações arqueológicas em 1958.

A coleção de moedas da antiguidade clássica, que foi recuperada pela brigada da Judiciária do Norte da secção dos crimes de furto e falsificação de obras de arte, poderia facilmente ter sido vendido no leilão de Madrid para o British Museum (Reino Unido) ou para o Museu de Berlim (Alemanha) ou para o Câbinet de Médaille, em Paris (França), explicou o historiador Rui Centeno. Acrescentou que, agora que a coleção das moedas romanas foi recuperada, deve ir para um local que acautele os interesses de Portugal e que conserve e preserve bem aquele património.

"Temos uma moeda única e deve estar bem acautelada, porque hoje a numismática movimenta biliões em todo o mundo e isto é uma peça muito apetecível em qualquer leilão", acrescenta o especialista, afirmando que a instituição que vai acolher este património deve ter condições de segurança e de preservação do património".

A instituição que vai acolher o denário e o resto das moedas romanas recuperadas é o Museu Arqueológico D. Diogo de Sousa, em Braga, disse à Lusa o diretor da Judiciária do Norte, Batista Romão, considerando que o trabalho da "pequena, mas especializada e muito dedicada" brigada da Polícia Judiciária é um bom exemplo de como a "Judiciária está atenta a este fenómeno do contrabando e dos furtos" do património português, "seja das moedas, seja na pintura, seja noutras áreas".

"Desde que efetivamente tenha elementos para trabalhar, rapidamente se põe no terreno e consegue os bons resultados nesta área", considerou Batista Romão, referindo que as moedas vão agora ser entregues ao Estado português, ficando na posse do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, em Braga, um museu regional da zona Norte.

Em entrevista à Lusa, Isabel Silva, uma das responsáveis pelo Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, avançou que o denário, tal como o resto da coleção recuperada, poderá ser vista pelo público ao longo deste ano de 2018.

"Acabam por reentrar no museu e ser fruídas pelo público tantos anos depois. Isto significa que, por um lado, há uma polícia que está atenta e empenhada nestes processos de recuperação de obras de arte e, por outro, vem realçar a importância das coleções serem inventariadas e estudadas", observou Isabel Silva, considerando "extraordinário" que a brigada da Judiciária tenha conseguido recuperar cerca de 20 anos depois as moedas romanas desaparecidas de Alijó.



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