Pelas contas do presidente da Câmara de Boticas, o incêndio, que lavrou naquele concelho durante cinco dias, consumiu uma área de mais de 3 mil hectares, a maioria da qual arborizada e de propriedade comunitária. E os prejuízos ascendem aos 11milhões de contos. No entanto, para Fernando Campos, que por causa desta \\"tragédia\\", antecipou um dia o regresso do Brasil, onde se encontrava a propósito das comemorações do aniversário da Casa de Trás-os-Montes, a dimensão da \\"catástrofe\\" podia ter sido menor. O autarca está convencido que o incêndio atingiu tais proporções por causa da \\"falta de coordenação\\" demonstrada pelo coordenador das operações no terreno, o inspector dos Bombeiros de Vila Real, João Lima. \\"Houve uma clara descoordenação no combate ao incêndio por parte da estrutura máxima que estava no terreno\\", acusou o autarca durante uma conferência de imprensa na passada terça-feira, acrescentando que: \\"a coordenação não respondeu com todos os meios na hora exacta\\". Para exemplificar ainda melhor a alegada falta de direcção, Fernando Campos falou em situações de ordens e contra-ordens dadas pela os comandos e pela inspecção, contra-fogos \\"tecnicamente mal executados\\" e \\"autorizações\\" que permitiram que todos os bombeiros abandonassem o local sem que o rescaldo estivesse completo, favorecendo, assim, os reacendimentos. \\"Houve gente que encontrou bombeiros a dormir no carro quando o fogo estava ali ao lado\\", acrescentou ainda o autarca.

Apurar

responsabilidades

Mas para o edil barrosão, a dimensão atingida pelo incêndio deve-se também ao facto de \\"nos últimos seis anos não ter sido gasto um centavo em trabalhos de limpeza e de ordenação das áreas florestais\\".

Outra das ideias defendidas por Fernando Campos no encontro com os jornalistas foi a de que \\"o que se passou em Boticas não se pode repetir\\". \\"Chegou a hora de dizer basta. Não se pode continuar a disponibilizar milhões de contos com estruturas ineficazes\\", afirmou Campos, dizendo que \\"o Governo tem que alterar profundamente as estruturas de combate a incêndios florestais\\". E ameaçou: \\"exigimos que o Governo tome medidas e sejam apuradas responsabilidades. Se assim não for, estaremos aqui a denunciar novamente o que aconteceu e com dados mais concretos\\". Além disso, o autarca prometeu também exigir ao Governo que sejam \\"tomadas medidas excepcionais\\" para atenuar os prejuízos causados pelas chamas.

Reflorestar

A esse propósito, na passada quarta-feira, o autarca reuniu com o secretário de Estado do Desenvolvimento Rural, Sevinate Pinto. Um encontro que, segundo Fernando Campos, serviria para \\"idealizar\\" um programa de reflorestação para aquela área. Programa esse que o autarca quer que seja \\"um modelo\\" e que consiga, \\"rapidamente\\", transformar aquela área numa \\"floresta viva\\", introduzindo inclusivamente espécies nobres, tais como o carvalho, por exemplo.

Para hoje, estão previstos encontros com os ministros da Agricultura e da Administração Interna. O presidente da Câmara de Boticas vai pedir aos membros do Governo que seja \\"agilizado\\" o processo de venda do material lenhoso que ficou naquela área, uma medida que considera fundamental para que não \\"comecem a aparecer pragas nos terrenos ardidos\\". Além disso, o autarca também vai solicitar apoio para os privados, \\"mesmo os que não tenham seguros\\", a quem o fogo também causou prejuízos ao dizimar pomares, vinhas, pastos e medas de centeio. Um levantamento, que segundo Campos, já estar ser feito pelos serviços da Câmara.

Para amanhã, está ainda agendada a vinda a Boticas de mais um membro do Governo. Antes de proceder à inauguração da Agro Barroso, o ministro das Cidades, Ambiente e ordenamento, Isaltino Morais, irá visitar a zona sinistrada.

Inspector defende-se

\\"Fiz o melhor que podia e sabia\\"

O inspector dos bombeiros de Vila Real, João Lima, não \\"entende\\" as críticas lançadas ao seu desempenho durante o incêndio que lavrou durante cinco dias naquele concelho pelo presidente da Câmara de Boticas, Fernando Campos. Em declarações ao Semanário TRANSMONTANO, João Lima afirmou que \\"a coordenação funcionou na perfeição e que foram cumpridas as directivas e as normas impostas pela estrutura\\". E, acrescentou, \\"os meios necessários foram disponibilizados na hora própria\\". \\"Não faltei com nada\\", frisou João Lima.

O inspector diz inclusivamente que houve comandantes de algumas corporações dos bombeiros que lhe deram os parabéns pelo trabalho feito. \\"Pelos vistos não fiz assim tantas asneiras\\", disse, por isso, João Lima, acrescentado que está de \\"consciência tranquila\\". \\"Fiz o melhor que sabia e podia. Não me sinto culpado de nada\\", sublinhou o inspector para concluir que, por isso, fica \\"muito triste\\" por surgirem \\"comentários destes\\".

Para João Lima, as razões que levaram aos sucessivos reacendimentos e à proporção do incêndio foram outras: o facto de se tratar de uma floresta \\"muito densa\\" e que \\"já não era limpa há mais 40 anos\\", por um lado, e o facto do pinhal em causa estar bastante resinado e coberto da chamada manta morta-matéria que se encontra no solo onde estão plantadas as árvores, cuja decomposição se transforma num \\"autêntico combustível\\".

Além destes factores, o inspector recordou também que \\"vento muito forte\\" que se sentiu nesses dias \\"não ajudou nada\\". \\"Os homens não conseguiram aguentar. Havia alturas que havia 20 ou 30 sítios a arder ao mesmo tempo\\". \\"Trabalhámos até à exaustão\\", rematou.



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