O presidente da Câmara de Mirandela, António Branco, alertou esta terça-feira para os riscos de desmoronamento da antiga estação do comboio da cidade transmontana, face ao abandono a que está votada devido a um "imbróglio" que se arrasta há mais de 20 anos.

"Não me deixem cair", lê-se numa faixa colocada por desconhecidos naquele que é um dos edifícios mais imponentes e emblemáticos da antiga linha do Tua. O autarca disse à agência Lusa estar disposto a pagar pelo edifício, mas antes é preciso que acabe a indefinição sobre quem é o dono.

"Estamos dispostos a pagá-lo, é preciso é que alguém se decida em relação a esta situação, porque a estação um dia destes cai e depois, nessa altura, quando cair, eu quero saber a quem é que é assacada a responsabilidade, porque a nós pouco nos interessa quem é o proprietário, nós queremos é uma solução para o edifício", afirmou.

O anterior executivo social-democrata, do qual o actual autarca também fez parte, pretendia transformar a estação num centro de artes. António Branco assegurou que tem projecto para o reabilitar e à zona envolvente, incluído nas verbas comunitárias para reabilitação urbana, que se podem perder, se não se resolver o problema.

O presidente da Câmara de Mirandela alertou, ainda, para a imagem turística que está em causa, numa altura em que já se sabe que há um operador que vai explorar turisticamente a linha do Tua, no âmbito do projecto de mobilidade em contrapartida pela construção da barragem de Foz Tua. "Imaginem o que é chegar um comboio muito bonito e muito agradável a Mirandela e estacionar em frente àquela estação. É o oposto do que nós necessitamos", vincou.

O "ar fantasmagórico" dado pelos vidros partidos e madeiras consumidas pelo tempo destoa da arrumação da "cidade jardim", assim conhecida esta localidade ribeirinha do Tua. A degradação começou antes de a autarquia ter decidido criar o Metropolitano Ligeiro de Superfície de Mirandela, há mais de 20 anos, que acabou por impedir a desactivação dos cerca de 60 quilómetros que restavam da linha, entre esta cidade e o Tua.

O edifício da estação chegou a ser alvo de um acordo em que era vendido pela CP a um empreiteiro para ser demolido para construção de loteamento e, em troca, a autarquia recebeu três carruagens do metro para circular na linha do Tua. O negócio desfez-se e ficou a dívida das carruagens, agravada pela mudança nas empresas ligadas aos caminhos-de-ferro e infra-estruturas.

Segundo o autarca de Mirandela, "a propriedade da estação nunca ficou muito clarificada: a CP reclamava-a para si e a REFER reclamava também" para ela. Agora surge no processo a empresa Infra-estruturas de Portugal (IP). "Nós só pretendemos que alguém defina de quem é a estação", reiterou, lembrando que tem vindo "a negociar com as entidades da tutela" e recebido "diversas, para não dizer múltiplas respostas, às vezes positivas, outras vezes não tanto". António Branco disse, ainda, não entender como é que "a própria REFER ou agora IP interveio em estações que estão ao longo da linha do Tua, recuperando-as, pelo menos protegendo-as, e esta, que está no centro de Mirandela, está cheia de vidros partidos e quase a cair".

"Nós mais não podemos fazer, além de aceitarmos aquele edifício, se no-lo quiserem dar, e intervirmos nele e recuperarmos. Até já nos propusemos comprá-lo", observou. Também a deputada do PS eleita pelo círculo de Bragança à Assembleia da República e natural de Mirandela, Júlia Rodrigues, questionou já o Ministério das Infra-estruturas sobre o estado da estação e o que pretende fazer o Governo.
Lusa



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