Foi aos 14 anos que Manuel Teixeira aprendeu com o seu pai a profissão de alfaiate. Mas só após a morte do progenitor é que começou a trabalhar por sua conta. E fregueses não lhe faltavam. Vinham das aldeias de Azibeiro, Santa Combinha, Edroso, Ferreira e Murçós. Porém, devido às dificuldades daquele tempo, muitos levavam a obra e nunca mais apareciam para pagar. Por isso, este era um modo de vida sem qualquer perspectiva de futuro, mesmo complementando esta profissão com a de agricultor nas horas vagas. Manuel Teixeira passava noites inteiras a trabalhar à luz da candeia ou do gasómetro, e às vezes chegava à festa no Verão e não tinha sequer dinheiro para comprar um cibo de carne de vitela.

Desiludido com esta forma de viver, decidiu emigrar para França. Lá, trabalhou nas obras, mas a sua ideia foi sempre procurar um emprego como alfaiate. Bateu a algumas portas e nenhuma se lhe abriu. Na época, aquele não era um trabalho para emigrantes. Com muito esforço e uma forte vontade de regressar á terra, amealhou algumas economias para construir uma casa e comprar mais alguns terrenos. E foi o que fez quando já tinha perto de 50 anos.

Já ele estava a viver na aldeia quando surgiu a Associação dos Amigos de Podence, que promoveu a criação do grupo de caretos. Foi então que começou a talhar os primeiros trajes. No início, uns eram pagos e outros não. O que estava em causa era a fama crescente do grupo que levava o nome da aldeia aquém e além fronteiras. Hoje, pelo prestígio que alcançaram, os caretos assumiram para com eles próprios e para com a associação uma responsabilidade que exige mais qualidade na forma de se apresentarem em público. Essa tem sido uma preocupação de Manuel Teixeira, demonstrada no esmero com que faz os seus fatos, dentro de uma linha tradicional que ele conhece como ninguém.

No ano passado, a associação encomendou-lhe a confecção de mais quatro fatos e pagou-lhe 15 contos por cada um. Mas o alfaiate nunca estabeleceu um preço. "A associação só pagou o que quis".

Ultimamente Manuel Teixeira tem recebido outras encomendas de pessoas que pretendem possuir um traje de careto como peça de artesanato. Gostava de trabalhar mais na arte, mas a idade já não lhe permite grandes veleidades. Ainda há pouco tempo comprou um fato quando, se tivesse mais paciência, poderia ter sido ele a fazê-lo. Tem três filhos e nenhum aprendeu a sua profissão. Por isso, vê com preocupação e alguma nostalgia "a certeza" de que ninguém lhe vai continuar a arte.



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