Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Sem engenheiros florestais, que país queremos ter?

            Desgraçadamente, tornam-se sempre necessárias grandes tragédias para chamar a debate questões que a sociedade devia ter permanentemente na ordem do dia. Veja-se os problemas da floresta, os incêndios, o ordenamento do território. Pior que isso ainda é constatar que, passado o impacto das tragédias e o habitual período de nojo, a emoção dos afetos esmorece, dilui-se a pressão da emergência, e tudo volta a correr como se nada se passasse, com o silêncio a abrir portas (viu-se agora em Pedrógão Grande) a estranhos oportunismos.

            Mas não menos inquietante é a incapacidade, nesta aldeia global, de não colherem proveito, em outros países, as lições desafortunadamente aprendidas por nós. Assim se viu na tragédia dos incêndios da Grécia. O “local sem paredes” de Torga parece ter ficado pela emoção mediática que correu e avassalou à velocidade da luz. As grandes lições, os debates na comunidade científica, parece não terem ultrapassado essas paredes. Continuou a assistir-se aos efeitos da falta de ordenamento do território, a floresta a cavalgar para as zonas urbanas e estas para a floresta. Também a Proteção Civil podia ter corrigido falhas do passado em cenário trágico idêntico, apontadas em devido tempo por peritos portugueses, que, face à desorientação dos bombeiros, chegaram eles próprios a pegar em mangueiras.

            Mas por cá, outras desorientações nos inquietam. Soube-se por estes dias que o prazo de julho para apresentação do plano de reflorestação da Mata Nacional de Leiria destruída pelo fogo no ano passado não se cumpriu, sendo adiado para o próximo ano. Bem sabemos que para os planos de intervenção e gestão florestal são precisos engºs florestais. Mas onde estão eles, se o país está a formar menos de dez por ano? A UTAD oferece um curso de referência em Portugal e na Europa, mas as vagas de candidatos ficam, ano após ano, longe de encher. Se o Estado considera esta área de formação como estratégica, onde estão as medidas de incentivo? E bolsas de estudo para alunos mais carenciados que possam interessar-se pela Engª Florestal?

            Inquieta-nos a ideia de que, em breve, Portugal tenha de contratar engenheiros florestais no estrangeiro.

in JN, 28-7-2018

 


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