Paulo Afonso

Paulo Afonso

Secretaria de Estado da Comiseração pelo Interior

Ouvimos o Secretário de Estado da Valorização do Interior, João Catarino, anunciar com evidente resignação que gostaria de ver, na próxima legislatura, a eliminação das portagens no Interior, “nalgumas zonas do interior mais frágeis em termos económicos”. É de uma piedade digna de registo, a medida em si e a impotência governativa do Secretário de Estado. Tomou posse recentemente e já se conformou com a impotência da sua pasta e do seu papel no elenco governativo. Interior só na próxima legislatura e com sorte uma eliminação de portagens. Uma demagogia centralista a que já estamos habituados. Fica bem nos jornais, faz algumas manchetes e deixa os ignorantes felizes. Ou o Secretário de Estado está desfasado da realidade ou está conscientemente a enganar os Portugueses.

A medida em si é popularucha e soa bem, talvez para quem pense que entre Bragança e Vila Real de Santo António há 2 ou 3 autoestradas que ligam a interioridade. A valorização do Interior não é uma epopeia que obrigue a um empreendimento ao desconhecido como nos Descobrimentos. Não! O diagnóstico está feito e a prescrição terapêutica passada. O que falta, então? Vontade política! Decisão política! Ação governativa!

O Secretário de Estado, melhor do que ninguém, deveria sabê-lo. Afinal, fez parte da Unidade de Missão para a Valorização do Interior desde 2016 e foi o seu coordenador desde junho de 2017. Ou, então, talvez seja por esse desconhecimento da realidade do Interior que o impacto dessa Unidade tenha sido o que todos sentimos: nenhum. A maioria das medidas tinha um título sonante, embora a sua concretização seja um flop. Que resultado tiveram as medidas do Plano Nacional para a Coesão Territorial? Que resultado terá a hipotética redução, na próxima legislatura (???), das portagens nas autoestradas dos “territórios economicamente desfavorecidos do Interior”? Quantas empresas se sediaram no interior? Quantas se irão sediar? Quantas famílias se fixaram no Interior? Quantas se irão fixar? Quantos empregos jovens se criaram? Quantos se irão criar? Quantas crianças nasceram no Interior? E quantas irão nascer? Podíamos continuar este exercício de escrutínio às medidas do Programa Nacional para a Coesão Territorial da famosa Unidade de Missão e ao impacto da medida anunciada, com pompa e circunstância, pelo recém-empossado Secretário de Estado. A verdade é que, se na primeira não vimos qualquer resultado, da segunda não se espera qualquer resultado.

A governação do Interior ou para o Interior está resumida a uma questão de sintaxe: “qualquer coisa + interior” e temos mais uma política a anunciar para mudar o paradigma nacional.

O Interior está farto de medidas de piedade de Lisboa e de palmadinhas nas costas. O Interior não precisa de mais um governante da comiseração centralista pelo Interior, não precisamos de mais um governante no papel para o governo bradar que se preocupa e quer saber, porque não quer. O Interior precisa há quase meio século de alguém que o valorize e que lhe dê valor.

44 anos depois de Abril, 32 anos após a adesão à CEE, quase 4 biliões de euros (4 000 000 000 000 €) depois, Portugal devia estar mais coeso, mais homogéneo, mas está mais assimétrico. Depois de 44 anos de pausa no Interior, está na altura de fazer pausa no litoral e clicar play na governação para o Interior. Porque puxar pelo Interior é avançar Portugal!​


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