Manuel Igreja

Manuel Igreja

Parábola da Terra que Arde

Naquele tempo, havia uma terra muito bonita, muito azul e muito verde, estendia por centenas de quilómetros junto ao mar e com muitas e esplendorosas montanhas. Era muitovisitada por estrangeiros porque além do mais era uma calmaria no meio da tormenta que assolava o mundo me ser redor.

No entanto, todos os anos por altura do tempo mais quente, que o era bastante já que o clima assim o ditava, acontecia uma terrível desgraça. Os arvoredos viravam pasto das chamas. O país tornava-se numa enorme e medonha fogueira. Mais parecia que um qualquer deus menor e invejoso tinha lançado uma maldição para que assim acontecesse. Medonho o fogo destruía teres e haveres e causava mortes.

Aceso o primeiro fogacho tornava-se imparável porque as labaredas encontravam as condições ideias para o seu avanço terrivelmente bonito e cruel. Apesar dos esforços heroicos, somente se detinham sem pasto caiando de negro as almas e as montanhas antes verdejantes. Nem dias e noites seguidas de luta entre homens e fogo conseguiam evitar hhorrível destruição.

Grande parte do território ardido era terra prenha de alimento para o fogo, chão propício para a ignição instantânea e imparável. Ermos abandonados pelos homens e pelas mulheres mais não eram que restolhos prontos a arder a cada ano. Ninguém os pisava, ninguém os aparava, ninguém os cuidava.

Mesmo quem havia edificado casas em volta ou no seu meio em épocas de desordenamento,apesar das aflições anuais, pouco ou nada fazia ao longo do resto do tempo para manter no seu perímetro terra limpa e sem combustível que empolgasse chispa. Não se rapavam nem as beiras, nem as escarpas nem os caminhos.

Dizem também que escusos interesses provocavam a ignição periódica e anual na floresta naquele país, que não sendo o único a arder pelo Verão, ardia sempre mais que os outros em volta. Pelo menos em dobro ao que referem os anais e os estudos. Lucros com o ardido, lucros a extinguir o que estava a arder, doidice por se gostar de ver, maldade em se fazer, eram causas possíveis para o atear.
Quente como o fogo que ardia eram então naquele tempo as emoções e as espontâneas atitudes de solidariedade. Aquele povo tocado pela desgraça dava permanentes lições de heroísmo, de abnegação e altruísmo. Mas esquecia rápido. Os líderes, mais uma vez cadaano, juravam a pés juntos que se iria cuidar da causa das coisas para que as coisas não sucedessem.

Mas eram balelas ditas em momentos de pura emoção apesar da verdade das intenções na hora. Passada a tormenta tudo se enredava em outros assuntos ao sabor das modas instantâneas. Terra de improviso e de eficientes oportunistas sempre prontos para aproveitar as oportunidades, ano a ano tudo ficava com dantes, mesmo que a riqueza destruída fosse de incalculável valor.

Em boa verdade vos digo. Não se consegue parar o fogo se antes se não tirarmos a lenha do seu caminho. Por isso, como palheiro velho com fumador descuidado por perto, aquele país esteve condenado a arder apesar do heroísmo dos que com sopros tentavam apagar o fogo que arde e se vê.


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