Os anos que nos envelhecem

Quando fiz 7 anos, chorei muito.

Foi uma desgraça, quando, de repente, comecei a contar pelos dedos e me apercebi que fazia 7 anos. Caramba! Tantos? Estava, inevitavelmente, a ficar mais velha, com mais responsabilidades. Havia gente mais nova do que eu, mais dependente de cuidados e de mimos. E eu, achei naquele dia 7 de Outubro, estava a ficar passada, como um pacote de batatas fritas aberto, que deixa o conteúdo antes apetecível numa bodega mole e esquisita.

Alguém tinha deixado o pacote da minha juventude aberto, e eu percebi tudo quando, no virar da meia-noite, fui brindada com os parabéns dados pelos meus pais. Chorei, e disse-lhes que iam deixar de gostar de mim porque eu estava a ficar velha.

Eles, incrédulos com tamanha ilação, garantiram que não e que não é assim que o amor, principalmente dos pais, se processa. Que não se deixa de gostar dos filhos, e que o mais normal mesmo é crescer.

Tinha razão numa coisa: estava a ficar maior. Estava a crescer, e isso trazia coisas novas. E boas. Mas, acima de tudo, novas.

Para nova é que eu já não estava a ir, e crescer é o maior dilema da Humanidade. É que, sem darmos por ela, somos os mesmos numa pele de serpente, que teima em mudar.

Crescemos nós, os nossos familiares, os nossos amigos, os nossos animais de estimação… Quem não cresce, fica mais velho. E consegue fazer menos coisas. Como a avó, que antes andava na horta a apanhar feijão e o que calhava pela hora da sesta, e agora só vê os terrenos silvados, de longe, sem ter pernas para lá andar.

Crescer e ficar mais velho não quer dizer que vão deixar de nos amar, ou sequer que nos vão amar de uma forma diferente. Com os anos podemos, por exemplo, gostar de pessoas diferentes, deixar de ter afeição por outras, ou por objectos e diversas coisas, como músicas ou cores. Podemos deixar de gostar de usar calções ou o cabelo apanhado. De deixar de gostar de comer gelados, e começar antes a gostar de beber café. Podemos pôr de parte o amor pelos fritos e passar a ser das saladas.

Só que nunca vamos deixar por cultivar (ao contrário dos terrenos da avó) o que sabíamos que seria para sempre. Nem os sentimentos. Nem as novidades. Nem nada do que nos fizer falta.

E sei-o desde os meus 7 anos.


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