Paulo Afonso

Paulo Afonso

Autoestrada? Autovia? Autopista? Autonada!

Em 2008: a ligação Zamora-Portugal uma realidade de 291 milhões €…

Em 2011: nem havia qualquer projeto…

Em fevereiro de 2017: projeto desbloqueado, 328 milhões €…

Em janeiro de 2018: declaração de impacto ambiental? Lá para abril…

 

10 anos depois, a A11 ou Autovía del Duero, reconhecida por todos como estratégica, continua perdida, no papel e em papéis. Esta demora é injustificável!

Quando o IP4 começou a ser construído, no início da década de oitenta, foi apregoado como a principal ligação do Norte de Portugal a Espanha. Demorou quase 30 anos a estar concluído. Quando foi, finalmente, terminado em 2009, o tráfego e a sinistralidade tornavam óbvia a necessidade de uma autoestrada. Mais de meio século depois da primeira autoestrada portuguesa (início da década de 60, em Lisboa), o distrito de Bragança deixou de ser o único sem um km de autoestrada. A A4 – Autoestrada Transmontana – foi praticamente concluída em 2013, mas a sua efetiva ligação ao resto do país só ocorreu a 7 de maio de 2016, com a abertura do Túnel do Marão. A continuidade para a Europa essa nunca chegou a acontecer! Não, por não termos construído a nossa parte (até Quintanilha), mas por, nestas décadas, inicialmente com o IP4, agora com a A4, não termos sabido (ou querido) reivindicar a ligação do lado de nuestros hermanos.

A décadas de atraso, na construção de infraestruturas no distrito de Bragança, soma-se, ainda, a barreira da fronteira. Esta teve e tem impactos demasiado nefastos no potencial desenvolvimento deste distrito, entravando investimento, obstaculizando a abertura de novas empresas e deslocalizando as existentes, conduzindo ao desemprego e ao despovoamento hemorrágico. O distrito mais próximo da Europa, aquele que devia ser a porta de Portugal para a Europa e a Porta da Europa para Portugal, está isolado e assim é mantido. Um Marão imponente de um lado e uma ligação por construir do outro. Um distrito esbarrado contra uma fronteira, quando para lá dessa fronteira há Espanha e toda a Europa à espera. Onde uns veem interior, eu vejo centralidade ibérica e proximidade à Europa! Onde uns veem fatalidade, eu vejo oportunidade e futuro! Onde uns se resignam, eu vejo uma luta que vale a pena travar! Faltam-nos as condições para tirarmos partido da nossa localização geográfica, que é a nossa maior vantagem (sim vantagem!). Faltam 72 km de Quintanilha a Zamora, uma autoestrada condigna que ligue a parte portuguesa (A4) à parte espanhola (A-11), requalificando a carretera nacional 122, a tal autovía del Duero que está prevista desde 2008 e que, 10 anos depois, continua uma miragem. Uma ligação importante não só para o distrito de Bragança, conferindo-lhe as acessibilidades para, finalmente, poder usufruir da sua centralidade ibérica e da sua proximidade à Europa, mas para todo o Norte de Portugal e da Península, constituindo uma verdadeira variante norte, permitindo a ligação do Porto a Barcelona por autoestrada.

A falta de voz do lado de Portugal e a falta de pressão sobre Espanha e a UE, pela necessidade, urgente, desta ligação prioritária, é altamente censurável. Exige-se mais preocupação aos governantes portugueses na defesa do interesse nacional e na defesa do Interior. Esta autoestrada liga Portugal à Europa e centraliza o Interior Norte na Península Ibérica! Esta ligação é estratégica, é urgente, é prioritária, porque torna este distrito a Porta da Europa. Mais que unidades de missão, estudos e discursos estéreis sobre as assimetrias territoriais e a coesão territorial precisamos de infraestruturas. Infraestruturas que sejam uma verdadeira via verde de progresso, que tragam investimento, que permitam a instalação de empresas e a criação de emprego para fixar pessoas! Precisamos de infraestruturas que soltem este território da “prisão” do Interior, ligando-nos a Espanha e à Europa, ligando-nos ao desenvolvimento e ligando-nos à esperança num futuro de progresso.

Depois de tantos anos que este distrito perdeu com tantas palavras de conforto e iludido em tantas promessas, que resultaram sempre nos filhos da terra partirem. Depois de tantos anos a tornar-se um distrito cheio de passado e, a cada partida, com menos futuro, é a altura de levantar a voz, no presente pelo nosso futuro! Queremos, precisamos e é exigível a ligação a Zamora, chega de promessas que não passam de expectativas adiadas no tempo, que invariavelmente se traduzem automaticamente em nada. Estamos fartos do autonada, queremos uma autoestrada!


Partilhar:

+ Crónicas